Ao revitalizar prédios históricos do Bairro do Recife a partir de 2000, o Porto Digital reconheceu o valor de trazer inovação para locais que já foram o coração pulsante da economia pernambucana. Agora, esse mesmo espírito chega a Caruaru, no Agreste, onde o Armazém da Criatividade encontrará um novo lar no edifício da antiga Fábrica Caroá, bem no Centro da cidade.
Fundado em 2013, no Polo Caruaru, na Rodovia 104, o Armazém da Criatividade agora ocupará cerca de 30% da área do Centro Cultural Tancredo Neves, que originalmente foi a Caorá, uma das fábricas de confecções responsáveis por catapultar a economia do município no século passado, entre as décadas de 1930 e 1970.
A história da urbanização e do desenvolvimento de Caruaru se confunde com a do crescimento do setor das confecções. Não à toa, o prédio que já abrigou a Fábrica Caroá fica na área do Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, principal palco do São João.
A mudança de local é impulsionada pelo novo acordo entre o Porto Digital e o Governo de Pernambuco, contando com recursos adicionais da Finep, além da cessão do imóvel pela prefeitura de Caruaru.
Assim, o ecossistema estará imerso no centro urbano e cultural da principal economia do Agreste, mais próximo e acessível à população. A conclusão da mudança deve ocorrer no primeiro semestre de 2025.
A sede passará a ter 2400 m² de área, contra 1800 m² do espaço anterior. Uma dos fatores que atrai o Porto Digital é o fato da existência de uma morfologia muito próxima da existente no Bairro do Recife, no sentido de ativar e revitalizar um edifício histórico, agindo na área do empreendedorismo.
História
A Fábrica Caroá foi fundada em 1935, tratando-se de um empreendimento grandioso para a época, com maquinário de última tecnologia importado da Europa. O responsável era José de Vasconcellos, que se especializou na desfibração do caroá, uma planta fibrosa típica das caatingas do Nordeste – muito usada na fabricação de cordões, cordas, barbantes, entre outros similares.
Vasconcellos também era dono de uma empresa que distribuía energia elétrica, tendo livre acesso de geradores para a fábrica. Uma curiosidade é que a Caorá chegou a vender a energia que sobrava para a Prefeitura, distribuindo energia para alguns bairros – história que lembra a atuação de Delmiro Gouveia, criador da Usina de Angiquinho.
A Fábrica ainda chegou a construir uma vila operária ao lado das instalações, a “Vila Caroá”, que foi posteriormente demolida e hoje é o espaço amplo para os shows do Pátio de Eventos Luiz Gonzaga.
Vale ressaltar que a Fábrica de Fiação e Cordoalha de Caroá detinha também usinas para beneficiamento de fibras em Custódia e Belmonte; e usinas de beneficiamento e prensagem de algodão em Vila Velha, Espírito Santo, Campina Grande, Belmonte e Custódia.
De Fábrica à Museu
A Caroá decretou falência, em 1978, quando passou a dever aos antigos funcionários por obrigações previdenciárias e direitos trabalhistas. Logo iniciaram-se esforços para o leilão do imóvel. Isso causou uma grande discussão no município, pois a venda poderia se desdobrar em um apagamento de uma parte importante da história da cidade.
Em 1982, a solução ocorreu através do Banco do Brasil, que arrematou o imóvel e assumiu todos os compromissos de débitos trabalhistas, totalizando um investimento de 120 milhões cruzeiros.
Em 1985, com a redemocratização, o imóvel foi doado à Fundação de Cultura de Caruaru pelo Banco, após interferência do Ministro da Justiça, Fernando Lyra. A gestão municipal reformou o prédio e o reinaugurou em 1988, na mesma época em que o São João da cidade ganhou uma maior dimensão.
Hoje, parte das antigas instalações da fábrica abrigam o Museu da Fábrica de Caroá, que fica no galpão, preservando algumas máquinas e fotografias.
Agora, o prédio também receberá as instalações do Porto Digital Caruaru, um marco de reocupação espacial, inovação contínua e respeito ao legado. Em um espaço onde antes se transformavam fibras, agora se transformarão ideias.
Sobre o Porto Digital em Caruaru
O Porto Digital em Caruaru é uma estrutura especial de suporte à inovação e empreendedorismo que atua de forma integrada com as instâncias de ensino, ciência e tecnologia e em estreita articulação com o setor produtivo e com as políticas públicas da cidade, no Agreste de Pernambuco.
As áreas de atuação são as mesmas, focando no desenvolvimento de software e serviços de tecnologia da informação (TIC) e economia criativa (EC), com um recorte nos segmentos de design, games, cinevideoanimação, fotografia e música.
Porém, diferentemente do que ocorre no Recife, no caso de Caruaru, as áreas de TIC e EC estão em larga medida articuladas com a vocação preponderante do lugar, num esforço de introduzir padrões mais elevados de inovação nos arranjos produtivos principais da economia local. No caso do Agreste, a base é a atividade da economia criativa.
Além disso, a instituição conta com as comunidades Rede AC e Somos Minas, que juntas somam mais de 400 pessoas e fortalecem o ecossistema de inovação do Agreste pernambucano.
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